O último mês…

26 de Agosto de 2017, foi a data agendada da cirurgia.

A minha dor no tornozelo era tanta que eu não via a hora de resolver tudo aquilo. Aplicar o ácido hialurônico intra-articular, após uma artroscopia para “remoção de fragmentos” e retirada das placas e parafusos, era a chance que eu tinha de obter alguma melhora de todo aquele sofrimento. Eu me agarrei na esperança de que aquilo mudaria minha perspectiva futura.

Segundo o médico, seria um procedimento tranquilo e, por esta razão, eu só ficaria de 15 a 30 dias em repouso. Entretanto, voltar a escalar estava previsto apenas com dois meses de pós operatório. Por esta razão, organizei-me para escalar em todos os finais de semana que precederam a cirurgia.

Conheci a falésia do Ser, em Petrópolis, aonde tive o prazer de escalar várias vias, inclusive a clássica Blackbird. Participei, no Cantagalo, da minha última invasão feminina, com as meninas do grupo de escalada do whatsapp. Conheci algumas cachoeiras, na região da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro e viajei para o Sul, aproveitando também para comemorar meu aniversário de forma diferente.

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Sobre a viagem de Curitiba, eu até poderia fazer um capítulo a parte, pois foi uma viagem intensa e cheia de momentos incríveis. Escalei no Morro do Anhangava e foi uma das experiências mais gostosas que tive. Dentre as vias que conheci, escalei uma das 50 vias clássicas do Brasil (Livro do Flávio Daflon), a Solanjaca. Com início aéreo, sua saída já é adrenante, mas a continuação é cheia de agarras bem marcadas, em uma linha reta, com um final de domínio interessante.

Ainda no primeiro dia, tentei escalar uma via mega ultra adrenante, graduada em 7b. Só que não era apenas um 7b….a via, além de aérea, era delicada e horizontal para a direita, tudo que meu pé direito, ou melhor, eu tinha pavor! Dei seg para o Alan, que me daria seg da parada, mas na minha vez de escalar, entrei em pânico. Além de estar escurecendo, eu não conseguia sair do chão.

Meu pé não deu conta de escalar a via Senhores da Verdade. A dor era muita e eu não encontrava alternativas menos dolorosas para continuar. Acabei desistindo e passei minha sapatilha para o Rafael Ribas que, mesmo lesionado, escalou a via para rapelar junto com o Alan, que aguardava na parada.

Além do Morro do Anhangava, aonde escalei por dois dias, num dos dias da viagem, conheci o setor 1 de São Luis do Purunã/PR, que diferentemente do granito aderente do Morro do Anhangava, é composto por formações de arenito. Apesar de ser o mais próximo e de acesso fácil, é o setor menos frequentado de todos. Por esta razão, também tinha algumas vias bem sujas.

 

 

O último dia de viagem foi programado para conhecer Morretes/PR. Passamos pela estrada da Graciosa, que realmente é muito linda e, como fui com meu jipinho 4×4, tive o privilégio de poder entrar no Parque Estadual Pico do Marumbi e subir de carro até o máximo permitido, que terminava perto da linha do trem, de onde só poderíamos prosseguir andando.

Após estacionar o carro, havia ainda uma pequena trilha para chegar à linha do trem que culminava com um visual incrível do Pico do Marumbi. Apesar de não ter conseguido escalá-lo, fiquei vislumbrada com a sua grandiosidade e me propus voltar lá, algum dia, para escalar.

 

 

Antes de pegar estrada de volta, em comemoração ao meu aniversário, almocei um Barreado, prato tradicional de Morretes e, quando cheguei em casa, já de noite, meus pais estavam me esperando com um bolinho de parabéns! Foi bom demais! 🙂

 

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No último final de semana de escalada, em agosto de 2017, voltei no Platô da Lagoa, no Rio de Janeiro e, ineditamente, decidi entrar na via Montanha Russa. Após conseguir mandar a via de top rope e com impressionante facilidade, achei que tentar guiá-la seria uma grande evolução e excelente forma de me despedir, temporariamente, da escalada.

A Montanha Russa era uma via que eu nunca tentava, pois achava impossível. A primeira vez que entrei nela, com 4 meses de escalada, eu mal consegui sair do chão e, por isso, nunca mais tentei novamente.

 

 

A guiada não teve cadena, pois fiquei com medo da queda em diagonal no final, mas foi uma realização pessoal conseguir guiá-la. Fui além do que eu poderia imaginar e isso me deixou mais empolgada ainda para voltar a escalar, depois de operar.

Senti que havia fechado aquele ciclo de pré-cirurgia com chave de ouro…

 

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Finalmente havia chegado o dia da cirurgia. Eu acreditava que seria uma nova etapa na minha recuperação. A promessa de redução da dor me dava um novo gás para continuar. Eu sabia que talvez a dor não fosse arrancada por completo, mas sonhava em uma diminuição considerável.

Infelizmente, não foi o que aconteceu….

Continua.

5 comentários em “O último mês…

  1. Olá. Obrigada pelo artigo… fui recomendada a fazer artroscopia .. e com medo enorme das dores não melhorarem .. e pior.. Não poder escalar! Siga em frente sua jornada! Curta! Abraço

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